O Projeto de Identidade Afro-brasileira na escola

De acordo com nossa vivência, pudemos perceber a supervalorização da cultura euroéia em detrimento dos elementos genuinamente formadores da nossa cultura, com a participação do nativo brasileiro (conhecido popularmente por índio), do europeu e, principalmente, do negro, por parte de nossos alunos. Na escola, os apelidos se repetiam e a visão de tudo que fosse pertinente ao negro era "feio", predominava. Assim, resolvemos trabalhar, em forma de Pedagogia de Projetos, e de acordo com a Lei n0. 10.639/03, que traz a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro na sala de aula, o Projeto de Identidade Afro-brasileira, objetivando uma maior consciência dos alunos da Escola municipal João Fernandes Vieira quanto às questões raciais.
Iniciativa, concepção e organização: Profa. Ms. Lucia Valle. Colaboração : Profa. Tailliny Burgo

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Algumas considerações sobre o Projeto Didático de Identidade Afro-brasileira




      A mãe entra na escola, fumaçando, e pede para falar com a professora. Sua filha, da Educação Infantil; ela foi à escola reclamar porque a professora havia soltado o cabelo de sua filha e penteado de forma a manter os cachinhos soltos e visíveis. "Mas o cabelo de sua filha é tão lindo! Por que não solta?" a resposta, estarrecedora: "Porque não quero ela com esse cabelo horroroso solto por aí!"
    Bem, essa história é real. Aconteceu lá na escola, enquanto vivenciávamos o Projeto. Entre tantas outras, serve para ilustrar o porquê se faz tão necessária uma intervenção pedagógica nesse sentido: as discussões sobre racismo, sobre exclusão, sobre tipos físicos diferentes deve existir ainda que isso desacomode escola e professores. Ainda que não queiramos sair da zona de conforto. O terceiro Milênio não acomoda mais estruturas e discursos próprios da relação entre Casa Grande e Senzala.
    Algumas questões emergiram com mais força durante a vivência, e sem dúvida o racismo foi a primeira  delas. Racismo de todos os lados, de todas as formas, em todos os discursos. Não tínhamos ilusões quanto a isso, mas pessoalmente eu não esperava tanta força quando eram feitas as colocações contra a cultura afrodescendente. De qualquer modo, os professores tiveram boas oportunidades para trabalhar bem essa questão.
      Observei também muita assimilação do discurso racista dominante, por parte dos alunos. A questão é: o que a escola tem feito com esse discurso? Tem discutido o preconceito ou tem simplesmente perpetrado as formas tradicionais de racismo? O que eu, professor, tenho feito de meu aluno: um questionador desses padrões ou um mero repetidor e propagador dessas posturas preconceituosas?

        De qualquer modo, valeu a vivência, pois pudemos observar que os alunos, de modo geral, despertaram para as questões raciais e se tornaram curiosos, provocadores e exploradores de questões como a que um aluno me fez ao observar o trabalho de seu professor em sala. Ao ver a história do samba, como ele havia surgido nos morros cariocas após a expulsão dos negros alforriados dos cortiços, um aluno me perguntou: "E aqui, professora? o que aconteceu com os negros depois que foram libertos? Foram morar aonde? Trabalharam de que?" 
          No próximo dia 20 de novembro será o Dia da Consciência Negra. Espero, firmemente, que o projeto tenha servido para despertar essa consciência em nossos alunos.
    

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